DRAMATURGIA PARA CRIANÇAS.
*Josimar
Alves
Para falarmos em dramaturgia para crianças
devemos entender a nossa história, ou seja, a nossa evolução como ser que pensa
e transforma. Nesse sentido, o universo infantil é uma novidade nas artes, haja
vista que na Idade Média a criança simplesmente não existia enquanto ser, mas
sim quando a mesma conseguia desenvolver tarefas como se fosse adulto. Foi a
partir do século XVII que a Igreja e o Estado conseguem aprisionar o pequeno
“animalzinho” para domesticá-lo e eis que surge a escola. Já no século XVIII a
criança era vista como uma página a ser preenchida pelo adulto. Em seguida, o
processo tecnológico explode no século XIX, temos a energia, as fábricas, mas o
pequeno ser ainda é relegado na sociedade. No século XX a criança era tão
frágil que seria preciso à presença da medicina para a preservação da criança
em todos os sentidos. Surge então, a Psicologia e a Pedagogia como elementos
essenciais para compreendermos o papel da criança na sociedade. Temos então o
construtivismo e o sócio-interacionismo que comprovam que a criança não é um
pequeno adulto, mas sim um ser humano em pleno desenvolvimento que constrói e
reconstrói constantemente.
Estamos no século XXI e a partir deste breve histórico
surgem alguns questionamentos: escrever teatro para crianças é uma tarefa
simples? Os textos apresentados têm chamado atenção das mesmas? Quais são os
símbolos ou ícones que possam fazer referência pra elas? Há uma comunicação
efetiva na tríade texto X ator X expectador?A linguagem é clara? Que tipos de
diálogos encontramos? Quais são as faixas etárias a serem atingidas?O problema
torna-se maior quando alguns grupos ou companhia de teatro tentam adaptar
textos para suprir a ausência de bons textos. E nesse sentido, percebemos o
vazio da pesquisa e da criatividade, pois muitas vezes encontramos textos
eminentemente didáticos ou maniqueístas, lembremos que as crianças não são
“bobas”elas querem interagir.
No Brasil os primeiros textos foram feitos para serem
interpretados por crianças. Em 1905, Olavo Bilac e Coelho Neto publicaram um
livro com 10 peças cujo titulo era Teatro Infantil, depois em 1938 Joracy
Camargo e Henrique Pongetti lançaram 18 peças infantis.O processo dramatúrgico
começa mesmo no país no final dos anos 40 e inicio dos anos 50 com Lúcia
Benedetti, Tatiana Belinky e Maria Clara Machado que não só escreviam como
encenavam, mas foi em 1973 com o texto “Histórias de Lenços Ventos” escrito e
dirigido por Ilo Krugli que temos um marco essencial, pois nos mostra uma forma
de fazer e pensar o teatro para crianças brasileiras.Saímos do teatro
educativo, da peça bem feita, ou seja, do começo meio e fim para a fantasia,
imaginação, o jogo, a descontinuidade da narrativa. A criança está sendo vista
como um ser humano inteligente, sensível, capaz de analisar, refletir, criticar.
Nos anos 80 em diante essas marcas são preponderantes na valorização deste
público exigente apresentando cada vez mais textos fragmentados, dissociados,
ou seja, não lineares. Todavia, existem textos hoje que buscam mais os efeitos
com cenário, figurinos, iluminação e a fábula nem sequer existe, não percebemos
nenhum roteiro, mas sim piadas sem gosto e diálogos tolos, bem como textos que
centralizam numa postura moralista ou que tratam as crianças como uma
mercadoria um simples fast food financeiro, mais grave ainda temos aqueles que
ainda tentam mostrar a criança com um lado “infantilóide” com trejeitos e
clichês terríveis. Evidentemente que merecem aplausos todos os dramaturgos que
tem mostrado novos temas em perpassar do imaginário à criticidade com um
resgate a palavra na sua escrita e na sua oralidade, bem como na inserção de
múltiplas linguagens, quer sejam com projeções, com técnicas de animação,
máscaras, circo, com o tônus do ator em cena.
Escrever para crianças, para adolescentes, para jovens
é ampliar os horizontes das letras, dos sentimentos profundos e não permanecer
nos chavões, gags ou gírias. Em 2008, completamos 60 anos de teatro para
crianças no Brasil cuja peça representativa é o “Casaco Encantado” de Lucia
Benedetti. Uma comemoração foi lançada pelo Centro Brasileiro de Teatro para a
Infância e Juventude. Lembramos também os 60 anos da Escolinha de
Arte do Brasil fundada em 1948 no Rio de Janeiro por Augusto Rodrigues, que
contou com vários artistas e que depois teve a participação essencial de Ilo
Krugli no final dos anos 50.
Sugerimos alguns textos para consulta, pesquisa e
montagem: A Magia do Teatro Infantil (1988) Organização: Arnaldo Niskier,
Editora Consultor (1988); A Menina que Buscava o Sol (1975) Autora:
Maria Helena Khüner,Coleção Vertente, 2001 Editora Vertente; História de
Lenços e Ventos (1974) Autor: Ilo Krugli Coleção Vertente, 2000 EDC -
Editora Didática e Científica Contato: edec@edec-editora.com.br; O
Casaco Encantado (1948) Autora: Lúcia Benedetti (1914-1998) José Olympio
Editora, 2005; O Cavalo Transparente Autora: Sylvia Orthofi
(1932/1997) Coleção Vertente, 2001; EDC - Editora Didática e Científica
Contato: edec@edec-editora.com.br
Referências bibliográficas
ABRAMOVICH, Fanny. O Estranho Mundo que se mostra às Crianças. São
Paulo: Summus,1983.
BACHELARD, Gaston. A psicanálise do fogo. São Paulo: Martins
Fontes: 1988.
CAMAROTTI, Marco. A linguagem no teatro infantil. 2.
ed. Recife: UFPE: 2002.
COHN,
Clarice. Antropologia
da criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar: 2005.
FREITAS, Marcos Cezar (org.) História Social da Infância no Brasil.
São Paulo: Cortez, 2003.
PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999.
PUPO, Maria Lucia de Souza Barros. No Reino da Desigualdade. São Paulo:
Perspectiva, 1991.
VYKOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins
Fontes, 1983.
*Josimar Alves é ator e diretor de teatro. Professor e jornalista
é o atual Diretor Presidente do Grupo de Teatro Heureca parceiro do SESI da
Paraíba.
Campina Grande, 26 de abril de 2008.
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TEATROTERAPIA
* Josimar Alves
O Teatroterapia surge no redescobrir os valores de cada um através do
lúdico, são exercícios ou ‘brincadeiras’ que possibilitam as pessoas a se
reencontrarem.
Todas as idades são bem vindas, pois desde o contacto com as informações
recebidas oriundas do ventre da mãe e do processo de cultura que lhes são
incutidos no dia-a-dia, essas informações são experienciadas da forma mais
fraterna.
São Jogos dramáticos, colagens, pinturas, enfim o universo interno posto
para o universo externo.
O Teatroterapia trabalha nossa sensibilidade, a percepção, e sabemos que
muitas vezes torna-se uma tarefa árdua, trabalhar o nosso eu (interior) porém o
teatro tem facilitado a vida das pessoas, todo mundo tem que aprender de novo
seu modo de olhar, de andar, de sorrir, etc.
* Professor, teatrólogo e jornalista.
Campina Grande/PB, agosto de 2007.
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Festival de Inverno de Campina Grande – Paraíba
* Josimar Alves
Em 1976, o Festival de Inverno de Campina Grande surge
como herdeiro do Festival Nacional de Teatro Amador, criado dois anos antes.
Desde então, já se sabia que ele não seria uma simples moda de inverno. Nomes
importantes da dramaturgia brasileira, como Pascoal Carlos Magno, Alcione
Araújo, Maria Luiza Barreto e outros que assistiram ao seu nascimento não se
restringiram apenas a contribuir para o engrandecimento do festival, mas
tornaram-se seus admiradores e colaboradores. Talentos famosos alargaram a dimensão
do Festival que, mesmo no seu nascedouro, já servia de pódio para artistas, até
então anônimos, darem os seus primeiros passos rumo ao estrelato.
Cumprindo as funções de distribuidor, de formador e de
promotor da circulação de bens culturais, o Festival de Inverno passa, a partir
de 1986, adescentralizar as suas atividades, democratizando o acesso às
artes para cinco cidades circunvizinhas, experiência que, apesar de bem
sucedida, acabou em 1992, momento em que ainda não se percebia o papel das
culturas e das artes como fonte de desenvolvimento econômico, uma vez que tais
ações despertavam de alguma forma a potencialidade turística desses municípios.
Sua sina inquieta, traduzida pela própria inquietação
de sua idealizadora, a professora Eneida Agra Maracajá, o levou a trilhar por
caminhos antes desconhecidos. Começa a executar projetos durante o ano inteiro,
deixando de ser apenas uma mostra de artes de dimensão nacional. Extrapola,
desse modo, a condição de evento e passa a se construir em empreendedor de um
programa cultural permanente, congregando, dentre outros, o projeto Cultura no
Presídio, desenvolvido ao longo do ano.
Eneida Agra Maracajá
Professora Mestre em Educação pela Universidade Federal da Paraíba, com
dissertação defendida sobre o Teatro na Educação Popular, Eneida Agra Maracajá
é uma das mais respeitadas promotoras culturais do país e dirigiu o Teatro
Municipal por 12 anos, quando também criou o I Fenate (1974), evento cultural
precursor do Festival de Inverno de Campina Grande, que em 2005 completará 30
anos. Além de professora de História da Arte, Eneida é representante da Rede
Brasil na Paraíba, membro do Conselho Brasileiro de Dança e do Conselho
Internacional de Folclore da Paraíba. É professora-fundadora do Projeto Cultura
no Presídio, uma iniciativa que oferece aos detentos do Presídio do Serrotão a
oportunidade de desenvolvimento da cidadania através das habilidades
artísticas. Também inovou a Micarande com a criação do tradicional Bloco da
Saudade, uma agremiação que resgata a cultura popular e os festejos
carnavalescos brasileiros. Através do Festival de Inverno, da qual é criadora e
coordenadora, implementou projetos na comunidade a exemplo do Circo da Cultura
e do Pólo de Extensão, que alcançou oito cidades paraibanas levando arte e
cultura. Uma de suas mais importantes ações foi o resgate do Cine São José,
junto ao Governo do Estado, para transformação em um teatro e escola para
crianças e adolescentes em situação de risco.
* Professor, teatrólogo e jornalista.
Campina Grande/PB, julho de 2007.
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O Teatro e o Circo na contemporaneidade
* Josimar Alves
A história do teatro se
confunde com a história da humanidade, pois a arte de representar advém das
situações vividas pelo ser humano que, por culto, religiosidade, louvor,
prestígio, entretenimento, registro, ou simplesmente pela pura expressão
artística expressa seus sentimentos num mundo da fantasia muito parecido com um
mundo real. O mundo evolui e a arte de se representar acompanha essa evolução.
Passam os séculos e os homens ali estão vivendo, sobrevivendo e exortando, pelo
viés da arte, a sua relação interpessoal, seu passado, seu futuro, seus medos,
seus ideais, suas vontades e desejos. O Circo tem em sua origem, na
Roma antiga. Os circos eram montados e desmontados em grandes arenas ao ar
livre, apresentando as corridas de bigas - carros puxados por
dois cavalos - e lutas de guerreiros. O picadeiro circular - ambiente mágico
povoado por acrobatas, engolidores de fogo, domadores de feras, faquires,
trapezistas, palhaços e equilibristas - só foi introduzido muito mais tarde, em
meados do século XVIII, na Inglaterra, temos Philip Astley, como o criador do
circo moderno. Baseado no princípio de que é mais fácil manter-se de pé sobre
um cavalo a galope se este executar um círculo perfeito, Astley comprou um
terreno e cercou-o com cordas em círculo para cavalgar e adestrar seus animais.
Tornou-se conhecido de pequenas platéias de crianças que se encantavam com seus
números de equitação e com seus cavalos adestrados. Aos poucos juntou-se com
artistas de rua, comediantes e malabaristas, convidando-os para seus
espetáculos. Depois vieram os domadores de animais selvagens e a trupe começou
a viajar pela Europa, apresentando-se até para reis e rainhas. Sobrevivendo às
novas formas de entretenimento, como o cinema e a televisão, o circo permanece
como um dos espetáculos mais populares em todo o mundo. A palavra circo vem
do latim circu, significando círculo ou oval e
hoje designa a casa de espetáculos desmontável, de forma circular e coberta de
lona. No Brasil, além da grande repercussão alcançada nas apresentações das
grandes companhias estrangeiras, o circo desenvolveu-se em torno de famílias
circenses que percorriam todo o país encantando pequenas ou grandes platéias.
Quem não se lembra de palhaços famosos como Torresmo, Piolin e Arrelia? Foi no
final dos anos 1950 e início dos anos 1960 que as companhias circenses
nacionais empobreceram e muitas acabaram. Porém, na década de 1980 iniciou-se
uma reabilitação das artes circenses, com a criação de uma escola de circo no
Rio de Janeiro. A partir de então, multiplicaram-se pelo país os grupos que
cuidam para que esta arte não desapareça: Irmãos Brother, Intrépida Trupe,
Teatro dos Anônimos (Rio de Janeiro), a Carroça dos Mamelungos (Ceará), Nau de
Ícaros, Irmãos Fratelli, Circo Escola Picadeiro (São Paulo), a Agitada Gang
(Paraíba), Grupo de Teatro Heureca parceiro do SESI da Paraíba, entre outros.
Além de trazer de volta uma tradição cultural e artística genuinamente popular,
as escolas de circo no Brasil têm cumprido uma função importante com projetos
voltados à profissionalização e integração social de crianças e adolescentes
carentes, tirando-os das ruas e devolvendo-lhes a cidadania. A atriz e
professora Chalena Barros de C. Grande na Paraíba, tem feito uma investigação
teatral e circense sobre esta questão, tendo se aprofundado em acrobacias
aéreas. Hoje, o circo tem uma tenda de lona (estrutura inspirada na arquitetura
dos povos nômades do Oriente) fácil de montar e desmontar. Os animais ferozes e
seus domadores fazem parte de um número que surgiu no circo atual. Os bobos da
corte e os Arlequins são hoje nossos palhaços. Trabalhar no circo é também
morar no circo, viajar com o circo e levar a "vida de circo". No
circo é comum um artista ter muitas funções e saber fazer de tudo um pouco, Com
a presença da mídia, ou seja, a televisão, o rádio e o cinema apareceram como
novas formas de lazer afastando as pessoas do circo, mas o amor pela arte faz
com que a fantasia presente nos espetáculos seja passada de geração para
geração. A arte é passada de pai para filho, mas existem os circos-escola que
ensinam à arte circense. A partir deste breve histórico resta-nos a pergunta
qual a função social do teatro e do circo hoje?Se antes, no passado era de
engajar as pessoas nos problemas sociais brasileiros, hoje estas artes proporcionam
um escape, uma fuga dos nossos problemas vividos.
*
Professor, teatrólogo e jornalista.
Campina Grande/PB, junho de 2007.
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NECESSIDADE
Josimar
Alves*
Qual a necessidade de Brecht hoje?
Estudar Brecht é essencial, pois abre uma série de
discussões no mundo, todavia, não podemos reduzir seu trabalho a algumas
receitas ou processos, pois como sabemos o teatro isolado não poderá mudar a
nossa sociedade, nem chegar a uma profunda mudança política, mas poderá mostrar
um caminho, uma solução, um oásis no grande deserto da vida.
No trabalho dele podemos perceber claramente várias
provocações:
1. Ele
faz intervenções quando menos se espera;
2. Enfrenta
todos os paradoxos;
3. Rompe
com diversas lendas.
Bertolt Brecht sempre fez uma grande reflexão sobre a
arte e a literatura: “Na verdade, é a arte inteira, sem exceções, que
está mergulhada numa situação nova. É enquanto totalidade, e não como se estivesses
cortada em mil pedaços, que a arte sofre um confronto, é enquanto totalidade
que se torna ou não uma mercadoria”. ¹
A partir dos estudos brechtianos podemos inferir:
· Como
acontece nossa prática artística?
· Que
produto temos hoje?
· Quais
as modificações sociais que teremos com a presença do texto na tríade
autor-ator-espectador?
Para Brecht o ator precisa saber que no palco ele é
somente um artista interpretando um personagem, mostrando como ele é sem
precisar vivê-lo; já o espectador de teatro tem que ser um critico-social, um
jurado que tem os atores como testemunhas, levando este julgamento popular a
conhecerem os testemunhos não por empatia, mas pela busca constante de se
encontrar uma verdade.
É interessante lembrar que a proposta de Brecht sempre
esteve voltada em unir a ‘arte ao trabalho’, fazendo uma ‘prática social
humana’. Seu trabalho pautou-se em fazer uma teoria da arte marxista para que
pudéssemos entender a ordem artística ou social e ao mesmo tempo seu desejo era
que a arte fosse uma poderosa arma nas mãos de todos que procuram transformar o
mundo.
BRECHT, Bertolt, Estudos Sobre Teatro. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
LEBRAVE,
Jean–Louis, LEFEBVRE, Jean-Pierre, GISSEIBRECHT, André e LORTHOLARY, Bernard.
Bertolt Brecht, écrits sur la literature et l’art.Paris: L’arche, 1970.
*Josimar Alves é ator, diretor, jornalista e professor.
Campina
Grande/PB, maio de 2007.
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Reflexões
Josimar Alves*
- Com o nosso teatro
estamos contribuindo para que o ser humano tenha uma qualidade de vida
melhor?
- Nossos espetáculos
têm ajudado as pessoas a serem mais amáveis?
- Como perpassamos a idéia
da valorização da vida?
*Josimar Alves é ator, diretor, jornalista e professor.
Campina Grande/PB, abril de 2007.